Existe essa linda flor, delicada e rara
Vivendo suas noites entre álcool e tabaco
Escondida atrás de um sorriso morto, opaco
Ela mendiga tragos de uma bebida sempre cara
Aprisionada nas curvas de um corpo cansado
Flutuando leve perto do palco, entre mesas e cadeiras
Tristemente perdida num mar de paixões corriqueiras
Ela se revela detrás de seu pequeno vestido avermelhado
E sob o atento olhar de quem a deseja
Oculto pela borda do copo de cerveja
A flor permanece ferida, abandonada
Uma beleza invadida, sempre maculada
Suspirando esquecida, sua luz apagada
Existe sim, essa linda flor
Que já não tem mais cheiro nem cor
Que pensa o dinheiro e sonha o amor
Que vai com homem ou mulher, sem se incomodar
Que se entrega para quem a quiser, basta pagar
Seu quarto não tem janela
Se tivesse, de quê iria servir?
Há muito sumiu o horizonte adiante
Restou apenas esse muro sufocante
O destino de seguir uma vida errante
A cama bagunçada? Sequer é dela
E quase nunca a usam para dormir
Ali deitam apenas desejos e ilusões
Vivos corações que sentem e têm medo
Chorando aflições em absoluto segredo
Existe sim, essa linda flor, doente, anestesiada
Que pela dor não deveria ter sido jamais tocada
Que desperta na fúria do Sol poente, desabrochada
Que já nem sente mais quando é acariciada
Que recebe a todos abertamente, escancarada
Essa flor que todos dizem não valer nada
Concebida na mágoa para fingir e dar carinho
É na verdade um anjo, que chora sozinho
Um refúgio aos fracos na cruel madrugada
Esse é seu maior pecado, ser essa alegria substituta
Criada por nós mesmos, fugindo de nossa própria luta
E que me perdoem as Santas, mas, Deus...
...ah sim, que Ele abençoe as Putas.
Guilherme Johnston
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