quinta-feira, 20 de maio de 2010

Antes do que poderia ser...

Antes da vida ficar difícil...

Eu gostaria de espernear aos brados
E fazer do organizado uma bagunça
Chutando os baldes que a vida me deu

Antes da tristeza chegar...

Seria bom estar deitado sobre a grama
Esparramando-me por todos os lados
Sorrindo ao céu como a criança que sou

Antes do mundo escurecer...

Quem me dera ter milhares de velas
Para incendiar cada canto da casa
E fazer da noite uma gloriosa labareda

Antes da lágrima cair...

Quão bela soaria uma gargalhada
Brotando franca do fundo do peito
Alimentando minha sincera loucura

Antes do medo surgir...

[Admirável] seria transpirar coragem
E sorrir ante o sofrimento [inevitável]
Como o herói que acredito ser

Antes do amor acabar...

Quisera eu ser feito de pedra
Não sofrer cada gota de saudade
Que escorre pela janela da sala
Como uma história que nunca vivi

Mas quis o destino pregar-me uma peça
Ao fazer de mim um abençoado oposto
Daquele que poderia de tudo se proteger

Ninguém há de acender as velas
A grama de meu jardim morrerá
O riso virá me silenciar a boca
Alegria mostrar-se-á ilusão

E vejo adiante tortuoso caminho
Que me saúda como velho amigo
Revelando-se lascivo, sem pudor
[ou perdão]

Eu a conheço bem, essa doce sina
Pois hão de estar sempre aqui, comigo
Minha terna, vasta e preciosa dor
Minha lânguida e incansável paixão...

Por fim, antes da despedida...

Hei de acenar confiante
E dar adeus aos que amo
Vendo-os partir um a um

Para enfim ser só, esquecido por todos
Feliz por aquilo que terei num dia distante
Em paz com tudo que já não existirá mais

Assim terminará minha bendita sorte
De apaixonar-me a todo instante
Pelas dores e alívios que a vida conduz

Essa irresistível tragédia, eu a abraço
Aceito essa honra sem o menor embaraço
De ser o último a fechar as cortinas, cerrar os olhos,

E apagar a luz...

Guilherme Johnston

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