quinta-feira, 23 de setembro de 2010

A Crônica do Primeiro Feijão

O texto abaixo foi enviado por e-mail há um bom tempo atrás, quando cozinhar por conta própria ainda representava um grande desafio para mim. O contexto é absolutamente verídico e realmente aconteceu na exata data especificada da história. Foi um dia pra lá de feliz na minha vida...

"Meus queridos amigos,

É com muita alegria que lhes escrevo este e-mail. E tamanha é ela que não me resta fazer mais nada além de dividi-la com vocês, que sempre me acompanharam, de perto ou à distância, em cada uma das minha aventuras, empreitadas e dificuldades.

Hoje, sexta-feira, 1 de setembro de 2006, precisamente às 14:57hs, será um dia determinado como um marco em minha ainda breve, porém tão rica, existência. Hoje é o dia em que deixo aqui registrada mais uma vitória.

Depois de muito esforço, após buscar por inúmeras alternativas, muitas vezes tendo que recorrer à caridade e habilidade de outras pessoas, pela primeira vez conquistei um feito que há muito almejava conquistar.

Foi preciso muita dedicação, perserverança e até mesmo teimosia para alcançar essa vitória. Confesso que, em alguns momentos, pensei em desistir, deixar para lá, contentar-me com essa limitação, aceitar o inevitável destino e simplesmente seguir em frente aceitando o fato de que jamais chegaria e viver este único e singular instante.

Mas, apesar das inúmeras desilusões e tentativas frustradas, meu prêmio foi concedido e minha própria capacidade excedida.

Hoje, sexta-feira, 1 de setembro de 2006, precisamente às 14:47hs, munido apenas de determinação, uma cebola inteira, três dentes-de-alho, duas calabresas cortadas em rodelas, três folhas de louro, duas chícaras de feijão Fantástico, cinco chícaras e meia de água, uma panela de pressão, uma colher-de-pau e uma concha, cozinhei o que posso considerar, definitivamente, o melhor feijão que já comi em toda minha vida.

Totalmente preparado por mim, passo-a-passo... Carinhosamente cozido e acompanhado a cada minuto. Inteiramente comprado com meu batalhado dinheiro. Um feijão concebido pela pureza da disciplina e esforço. Pela simplicidade de um amor que apenas é e não se questiona. Pela beleza de uma honestidade ímpia e intocada. Um feijão completamente brasileiro, absoluto em sua razão de existir, inquestionável em sua autenticidade e sabor.

Pois é, meus amigos. Chega certo ponto na vida de um homem em que não existem mais perguntas, os questionamentos tornam-se apenas lembranças e seu caminho torna-se claro e certo. Ele simplesmente é o que é, homem, na sua plenitude e totalidade, descobrindo gigantescos feitos a cada pequena e nova conquista.

Dizem por aí que a vingança é um prato que se come frio. Eu digo, que se dane a vingança! A vitória também é um prato, com muito feijão e calabresa no fundo, acompanhados de arroz branco e bastante, bastante tabasco.

Agora com licença que eu preciso sair por aí e caminhar sobre as águas do mar...

Um grande abraço a todos! Quando quiserem comer um excelente prato de arroz com feijão, já sabem a quem procurar."

Guilherme Johnston